segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

VELAS ASSOMBRADAS

Fotografia de Ian Britton

Naquela terra gelada, onde só por mistério a neve não caía, a família enrolava-se em mantas e rodeava a lareira, enquanto na panela de ferro fervia a sopa que serviria de ceia tardia, aquecendo o corpo e o espírito. As velas tremeluziam, estampando figuras fantasmagóricas nas paredes acinzentadas pelos fumos, uma das crianças choramingou de medo daquelas imagens estranhas, que se movimentavam constantemente como se dançassem ao som de uma música secreta e inaudível.

A anciã contava lendas de outras eras sobre o baile de solstício de inverno, em que bruxas, feiticeiras e fadas se reuniam na floresta, em redor de fogueiras fenomenais com todas as cores do arco-íris, rezando lengalengas desconhecidas e exibindo coreografias inusitadas, possivelmente para decidirem entre elas o destino dos homens e do mundo. Não se sabia ao certo, porque nenhum ser humano sobrevivera para divulgar esse ritual, as próprias árvores enfeitiçadas cerravam fileiras construindo um muro intransponível para quem as quisesse ultrapassar. "Alguns animais também serviam de guardiões à cerimónia encantada e atacavam todos os que ousassem penetrar no emaranhado do arvoredo", prosseguia a velha. Marta, com os olhos muito abertos e o lábio inferior a tremer, aproximou-se da janela e com a mão pequena e sapuda desenhou uma circunferência no vidro embaciado, espreitando para o exterior. Aliviada, não vislumbrou sombra de chamas ou de incandescências no matagal próximo, só a chuva e a imensa escuridão da noite...

- Oh, mãe, pare de contar essas histórias, que está a assustar as crianças! - admoestou a filha, preocupada com os olhares amedrontados da sua ninhada - Afinal de contas, só faltou a luz!

Contrariada pela interrupção, a idosa aconchegou o seu xaile e apenas resmungou: "Pois, pois, mas pelo terceiro dia consecutivo e durante um par horas dá para congelar os ossos, como se ainda vivêssemos nas cavernas..."

5 comentários:

  1. Não gosto de histórias de medo, mas é bom ficar sem luz de quando em quando para voltar a juntar-se e falar a sério, como só se pode quando não elementos exteriores a perturbar o relato.

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  2. quando eu for grande quero ser um druida celta, só naquela de falar com as árvores :D

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  3. Adorava essas historietas fantasmagóricas e irreais em miúda, SUN, normalmente contadas por velhinhas pacientes e imaginativas, nem só nas noites em que faltava a electricidade, mas também! :)
    E, por acaso, foi pela falta dela durante 3 dias consecutivos (parcial ou totalmente)que me lembrei, até porque a isso não acho tanta piada como tu... :e

    Uma coisa é quereres ser druida, MOYLITO, outra essa esquisitice da nacionalidade do mesmo. Porquê?! Gaulês ou lusitano não te serviam??? Eles não falam com as árvores? :))

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  4. Em criança adorava quando faltava a luz... essas histórias.. as sombras.. e ainda pregava uns sustos valentes quando tinha os meus primos por perto! ehehehe bons tempos :-w

    Beijocasss ;)

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  5. Também gostava da "novidade" quando era miúda, TÁ-SE BEM! :z

    Hoje em dia nem por isso, especialmente quando as falhas ocorrem durante três dias seguidos... :p

    Beijooocas!

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)